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Entrevista com a Presidente eleita da OAB Volta Redonda, Drª Carolina Patitucci


O momento de Empoderamento Feminino, está cada vez mais presente no nosso dia a dia. E mais uma mulher vitoriosa é nossa convidada, Dra. Carolina Patitucci, Advogada, jovem e agora Presidente Eleita da OAB/VOLTA REDONDA 5° SUBSEÇÃO.


A eleição aconteceu no dia 16 de Novembro na Sede da OAB/VR, a chapa 2 liderada pela Dra. Carolina Patitucci tendo como Vice a Dra. Anellise Dias venceu com 375 votos, 46,37% . A chapa 1, Liderada pelo Dr. Rodrygo Monteiro, atual Presidente, teve 220 votos, 27,19% e a chapa 3, Liderada pelo Dr. Rodrigo Vitorino, teve 187 votos, 23,11%. Com 12 votos brancos e 15 votos nulos.


A posse vai acontecer no início de 2022 , a data oficial ainda não foi definida.


O que pensa a Presidente Eleita? O que muda na OAB/VR? A revistasiga.com traz o pensamento da Drª Carolina Patitucci:


REVISTA SIGA: Como foi concebida a ideia, de uma chapa com maioria feminina na executiva, feito inédito na OAB?

CAROLINA PATITUCCI: Na verdade, foi natural porque eu e os membros da nossa chapa, já somos trabalhadores de Ordem, nós já trabalhamos na Ordem há muito tempo. Eu fui Presidente da OAB MULHER, sou atualmente Coordenadora das escolas de prerrogativas, fui Delegada da CAARJ e minha Vice também trabalhou muito ela hoje é da Seccional do Rio de Janeiro, já presidiu comissão, acabou então que foi algo muito natural porque essa gestão teve uma mudança. O atual Presidente foi eleito internamente, porque o Alex Martins saiu para concorrer na eleição majoritária, ficou uma lacuna e foi feita uma eleição interna, na verdade quem elegeu o atual Presidente foram os conselheiros e ele venceu por um voto o que mostra que a pessoa não tem 100% de aprovação.


As pessoas começaram a nos procurar, " olha, nós precisamos de uma chapa concorrente, acabou que meu nome apareceu. Isso foi a Rosa Fonseca, ex presidente da OAB/VR junto com Edson Lana que está na minha chapa. A Rosa tinha esse sonho de ter mais uma mulher na Presidência. Eu inclusive já tinha dito a ela, se for uma mulher eu vou apoiar.


Porque essa é a minha pauta, eu como presidente da OAB MULHER e na Escola de Prerrogativas eu dou aulas sobre as prerrogativas da mulher advogada. Hoje segundo o último censo do conselho federal nós mulher, somos 52% e isso não se reflete nos espaços na hora de ocupar cargos nos poderes. Só para se ter uma noção, de Seccional contando com o Distrito Federal, de 27 estados, sabe quantas mulheres nós temos Presidentes hoje? Nenhuma, então isso sempre foi a minha luta nas palestras, eu sempre falei sobre esse assunto, aliás, sempre deixei isso muito claro com a Rosa, se for uma mulher vou apoiar, ela também tinha esse sonho, a OAB/VR, tem mais de 40 anos e até hoje só tivemos ela como Presidente, e o pior, depois dela nenhuma outra mulher sequer tinha se candidatado.


RS: A Sra. Já foi candidata a Vereadora em Volta Redonda (não se elegeu). Pode acontecer uma nova candidatura partidária como a Sra. Citou que já aconteceu na OAB/VR , ou isso não está no momento nos seus planos?

CP: Primeiramente o respeito a todos os trabalhadores de Ordem, todas as pessoas que já passaram nas gestões, é importante sempre frisar que nós Advogados e Advogadas, prometemos defender a democracia e as instituições, então não podemos criminalizar a política como infelizmente muitas pessoas fazem. Mas algo precisa ser claro, você precisa respeitar a instituição OAB, ela é apartidária . Tanto que eu não sou filiada a nenhum partido político e se Deus me permitir, farei duas gestões, isto já está combinado com meu conselho porquê são três anos de mandato na Presidência da OAB/VR, acredito que três anos é muito pouco tempo, nós temos muito trabalho, muita coisa para ser feita. A nossa casa precisa ser arrumada, precisamos trazer nossa Ordem de volta. Nosso planejamento é para duas gestões , seis anos, frente a OAB. Depois dar espaço para outras pessoas para também gerirem a instituição. A OAB não é minha ela é da advocacia.


RS: A sua eleição, traz um fato inédito, é a primeira vez que a OAB/VR, elege Presidente e Vice, mulheres

CP: Exatamente, a única mulher que havia se candidatado até então foi a Rosa. E quando a ideia de nós concorrermos virou fato, pensamos, vamos trazer uma Vice mulher também. Vocês não tem noção do que passamos só por ter uma Vice mulher, recebemos ameaças veladas, ligações falando que isso não daria certo, que deveríamos colocar um homem de cabeça branca como meu Vice. Outros que foram até candidatos, falando que ele deveria ser o vice, que ele tinha uma postura melhor do que a atual vice eleita, desmerecendo a mulher. E eu falei, engraçado, sempre foram dois homens e nunca houve questionamentos. A possibilidade de uma chapa encabeçada por duas mulheres, incomodou muita gente. Em alguns momentos, eram tantas as ligações, que chegamos a nos desmotivar. Só que tivemos uma conversa, não vou citar nomes, essa pessoa tentou me intimidar, dizendo que sairíamos desmoralizadas dessa campanha. Bom quando ouvi essa frase, respirei fundo e pensei, ele não me conhece, não sabe a coragem e a determinação que eu tenho. E isso me deu muito mais forças para seguir.


RS: Por esse seu depoimento, podemos concluir que ainda estamos longe da igualdade homens x mulheres?

CP: Acredito que está muito longe, porque infelizmente quando por exemplo, vamos ver a política partidária, nela a gente vê as cotas para as mulheres , um avanço, mas já vimos também candidaturas laranjas, de mulheres que se candidataram , pegaram o valor do fundo partidário e deram para homens fazerem suas campanhas.

Então a mulher sofre ainda muita violência política, existe até a cota mas.... Acho horrível dizer que falta coragem para as mulheres virem candidatas, é mentira, as mulheres querem sim vir candidatas, faltam oportunidades, isso a gente vê muito na política partidária, as mulheres são chamadas para cumprirem as cotas se não a legenda não fecha, e só. Ou é chamada para vir de Vice nas campanhas majoritárias, porque precisa ficar o "politicamente correto". Volta Redonda por exemplo, nunca tivemos uma Prefeita eleita. Tivemos a América Teresa que ficou um breve período, mas Prefeita eleita, nunca tivemos.


RS: Por quê então a mulher que é maioria, não vota em mulheres?

CP: Infelizmente isso realmente ocorre. Nós mulheres, somos criadas neste sistema machista, ele inclusive muitas vezes coloca as mulheres contra as mulheres, dizendo que mulher não é amiga de mulher, que somos invejosas, então isso é o próprio sistema que faz de propósito para evitar nossa união. A história mostra e prova que as mulheres quando se unem, principalmente nas comunidades, uma cuidando dos filhos da outra, redes de apoio, sempre chegamos em nossos objetivos, foi exatamente o que aconteceu na minha eleição na OAB, acredito que tivemos uma maioria de eleitores mulheres , embora muitos homens também tenham votado em nossa chapa, porque precisamos também dos homens apoiadores de nossa causa, sem essa ajuda, efetivamente não vamos conseguir.


Quando nós mulheres percebermos que só vamos conseguir mudar nossa própria realidade nos unindo, tudo muda.


Cito sempre o genocídio de Ruanda na África em 1994, perto de hum milhão de homens foram mortos, as mulheres começaram a ocupar os cargos que eram deles, hoje o parlamento de Ruanda tem 70% de mulheres e aí, foram aprovadas leis contra estupro, leis contra a violência doméstica, mudaram a constituição, colocando igualdade entre homens e mulheres, então de maneira clara , percebe-se que quando as mulheres ocupam esses espaços elas nos representam criando políticas públicas, criando legislações. E não é só por ser mulher também, todos os seres que compõe a sociedade, precisam ser representados nesses espaços. Aí falamos também de pessoas com deficiência, de negros, dos indígenas essa é a pluralidade da nossa sociedade.


RS: Porque as mulheres de forma incontestável tem a coragem e as vezes falta consciência de se posicionar como ela merece ?

CP: Porque nós temos dupla, terceira e quarta jornadas, a sociedade em que vivemos, institui para a mulher o quê? Agora, temos o nosso lugar no mercado de trabalho, mas temos também os filhos na nossa responsabilidade, a casa, e ainda nos sentimos responsáveis para cuidar de todos na sociedade. Então a mulher é muito tensa porque instituíram para as mulheres essas responsabilidades, acho isso injusto. Veja um homem, sem generalizar, mas normalmente quando ele consegue sua ascensão profissional, quando ele chega em casa, tem a janta pronta, os filhos já foram para a escola, já tomaram banho, então ele consegue ficar 100% na carreira. A mulher tem a sua ascensão profissional em "U" , ela está em ascensão, engravida, aí vem o estereótipo de que ela não vai ser uma boa profissional igual ela era, quando volta é demitida porque deduzem que ela não será a mesma profissional, tem todo o preconceito da mulher gestante. Aí ela precisa retornar para o mercado de trabalho, aí ela tem que recomeçar, enquanto que a carreira do homem é sempre linear.


RS: O que muda na OAB/VR ,com a sua eleição?

CP: Acredito que mude tudo, para mim a OAB, começa a escrever uma nova história, não é somente por eu ser mulher, mas pela minha história e minha trajetória como profissional. Eu sou a "cara" da nova advocacia da Cidade, sou uma mulher jovem que sei o que são meses após meses de escritório, sei o que é estar com a barriga num balcão, sei as violações de prerrogativas, então eu sei quais são as verdadeiras celeumas da classe, não desmerecendo claro os antigos Presidentes, mas faço parte da nova geração da advocacia. Demorei quase o dobro da maioria para me formar, tinha que pagar minha faculdade, então.....estudava, trancava a matrícula, voltava...enfim muitas dificuldades, fui a primeira a ter faculdade na minha família. Essa é a minha realidade, essa é a realidade da nova geração. A minha imagem reflete o nós somos hoje, o que é a advocacia na verdade e as dificuldades que a categoria vem enfrentando de uns anos para cá.


RS: A OAB , só cuida de Advogados e advogadas, ou existe algum comprometimento social com a comunidade?

CP: A OAB é "Sui generis" ,ou seja ela é tudo, ela não é somente um órgão de classe, obviamente que a meu ver, ela também é um órgão de classe e na minha opinião essa deve ser a nossa principal bandeira, primeiro precisamos arrumar a nossa casa, temos profissionais fechando escritórios, alguns com dificuldades financeiras, profissionais desistindo de advogar pelas dificuldades, sou bem clara neste sentido, a OAB, deve zelar primeiramente pelos seus. Também não podemos esquecer a função social que a OAB exerce. Quando um Advogado ou Advogada vai pegar a carteira, faz um juramento e esse juramento fica muito claro em minha cabeça, defender a justiça social, a democracia, a constituição, os direitos humanos, o estado democrático de direto, as leis, as instituições....então é isso é isso que é ser Advogada ou Advogado, a OAB precisa refletir nisto também, nós temos um compromisso social com a sociedade, nós também temos o papel fiscalizador. Eu quero primeiramente arrumar a casa , no começo da pandemia fui Delegada da CAARJ, os Advogados Audiencistas por exemplo, foram os que mais sofreram porque o fórum fechou , não tem mais audiência, o que aconteceu? Conseguimos articular cestas básicas para esses Advogados junto a CAARJ, vi de perto as dificuldades que esses profissionais passaram e lógico também passei, como quase todos os profissionais autônomos passaram nessa pandemia. Mas nunca vou me esquecer de olhar para a sociedade de Volta Redonda porquê esse é também o papel da OAB.


RS: De que maneira concreta a OAB pode se integrar com a sociedade?

CP: Primeiro abrir a casa, me lembro de um evento que fizemos na OAB MULHER que foi muito emocionante, auditório lotado, e me lembro de uma pessoa de comunidade que pegou o microfone e falou assim, "nunca imaginei que um dia eu poderia subir essas escadas e falar sobre as dificuldades da minha comunidade". Então é isso que a gente precisa, mostrar que a OAB é a casa da advocacia, mas é do povo também. Precisamos também ter um bom diálogo com o poder público e com as serventias para conseguirmos entender quais são as dificuldades e a OAB como uma entidade respeitada, não me deixa dúvidas de que vamos fazer um bom diálogo e trazer benefícios para a comunidade.


RS: É tradição da OAB , estar presente nos momentos marcantes , do País , estados e Municípios

CP: Sim nossa entidade marca presença em tudo, até na Assembleia Nacional Constituinte a OAB teve um papel fundamental, como em tudo que é importante para o País e seu povo.


RS: O que a população pode esperar, além do que já falamos, a partir de sua posse em 2022 da OAB/VR?

CP: Vão perceber que a OAB/VR vai mudar de "cara". É importante frisar que não estou só, tenho 54 pessoas no conselho, todos Advogados e Advogadas militantes da Cidade que sabem as verdadeiras Celeumas, as dificuldades do dia a dia. A população pode ter a certeza de que vamos abrir as portas para acolher , escutar e saber os verdadeiros anseios e problemas da comunidade. Vamos ter uma OAB/VR mais inclusiva.


RS: Muita gente vê a OAB como uma entidade inatingível, a Sra. Concorda?

CP: A OAB é independente e isso é importante diante do que representamos, somos soldados na linha de frente. A advocacia mudou muito, não é mais uma profissão elitizada, eu sou um exemplo disso, meu Pai é sapateiro minha Mãe é Professora, vim de uma família humilde, hoje sou uma Advogada justamente por isso, porque a sociedade mudou. Os profissionais mudaram, hoje tem a exata noção de que a advocacia é uma profissão inclusiva. Essa é a nova cara da OAB/VR, eu acredito que represento muito isso e sou ciente do tamanho da responsabilidade, mas se me coloquei a disposição, tenho coragem, determinação, mas preciso da ajuda de todos pois sozinha não consigo, a OAB é a casa da advocacia, é nossa.

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